Efeitos da infecção pelo vírus da imunodeficiência humana na patogenia de acidente vascular cerebral

Effects of Human Immunodeficiency Virus Infection on the Pathogenesis of Stroke

Resumo

INTRODUÇÃO: A infecção crônica pelo HIV é capaz de causar sequelas sistêmicas e irreversíveis, incluindo o aumento do risco cardiovascular (CV), através de fatores como estresse oxidativo crônico, lesão endotelial e estado pró-trombótico, que parecem favorecer o aparecimento de eventos tromboembólicos, entre eles o acidente vascular cerebral (AVC). Outras condições como o envelhecimento da população infectada, o uso de algumas drogas da terapia antirretroviral (TARV) e as morbidades adquiridas pela infecção crônica colocam o HIV como potencial fator de risco para a ocorrência de AVC. OBJETIVO: Analisar os potenciais impactos da infecção pelo HIV na patogenia de AVC. MÉTODO: Revisão integrativa da literatura realizada a partir de periódicos indexados nas bases de dados da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS).  Foram utilizados como descritores em ciência da saúde: “Stroke”, “AIDS” e  “HIV”, cruzados pelo operador booleano AND. Foram incluídos artigos publicados no período de 2018 a 2023, disponibilizados de forma integral e gratuita, na língua portuguesa ou inglesa. Foram excluídas teses, dissertações, cartas ao editor e textos incompletos. A avaliação final resultou em 49 estudos, dos quais 12 foram utilizados para elaboração desta revisão. RESULTADOS: Pessoas que vivem com HIV (PVHIV) já em tratamento específico apresentam maiores taxas de doença CV causada por hipertensão não controlada e imunossupressão persistente. Aterosclerose foi a causa do AVC em 39% das PVHIV e aquelas com uma contagem mais baixa de CD4 apresentaram uma progressão mais rápida. O AVC isquêmico ocorre, em média, 10 anos antes nas PVHIV em comparação à população HIV negativa, assim como o surgimento de fatores de risco CV tradicionais. A TARV é uma terapia segura e eficaz, mas algumas drogas como o Darunavir e o Abacavir foram relacionadas ao aumento do risco CV em algumas pesquisas. Além disso, o estado pró-trombótico gerado por infecções oportunistas ainda é um importante fator causador de AVC, principalmente na coinfecção com herpes-zóster. CONCLUSÃO: A junção de fatores de risco convencionais e as modificações imunológicas e inflamatórias tornam as PVHIV mais vulneráveis a complicações cardiovasculares, incluindo o AVC. A detecção precoce e intervenções direcionadas a esses preditores devem ser incentivadas, a fim de diminuir as taxas de AVC entre essa população.